Sendo um dos principais celeiros do mundo, com grande diversidade biológica, o Brasil está bem posicionado para ser um dos principais produtores de biopolímeros no mundo, inclusive com tecnologia nacional, mas para isso precisará superar os desafios de criar demanda no mercado interno e desenvolver metodologias de certificação próprias para ganhar confiança da cadeia produtiva e dos consumidores.
Segundo estudos da consultoria americana Frosta & Sullivan, o mercado de biopolímeros no Brasil atingiu cerca de R$7,9 milhões em 2009. Enquanto isso é pequeno comparado com setor de petroquímico que fatura anulamente mais de R$10 bilhões anuais, a taxa de retorno de investimentos no setor podem crescer anualmente cerca de 140% até 2015.
Este crescimento se dá com maior demanda por embalagens e produtos que possam substituir o plástico oriundo de petróleo, que ao mesmo tempo emitam menos gases efeito estufa e sejam biodegradáveis. Atualmente os grandes motores desta demanda são o setor alimentício e o automotivo, que já buscam alternativas.
João Carlos de Godoy Moreira, diretor de Tecnologia e Inovação da Biomater Eco-Materiais, empresa que saiu dos laboratórios da Universidade Federal de São Carlos e se associou à holandesa Rodenburg Biopolymers, sente esta crescente demanda na pele, o que afeta as suas ações de marketing, o que contrasta com a necessidade de difundir a tecnologia,
“Somos uma empresa pequena e já estamos com uma capacidade tomada de clientes, tanto que estamos deixando de investir em publicidade e participar de feiras porque estamos trabalhando com a nossa capacidade máxima,” explicou.
A Biomater já está estudando planos de abrir uma fábrica para atender à demanda.
Diferentemente do México, o maior concorrente regional que produz biopolímeros do milho, o Brasil pode escolher a fonte da matéria prima entre mandioca, batata, cana de açúcar e até outras culturas que não competem diretamente como fonte de alimentos.
Também diferenciando-se do bioplástico, que é um polímero tradicional como polietileno só que feito de matéria renovável com o etanol – um dos principais produtos que a Braskem e Solvay Indupa estão usando para surfar a crescente onda verde – os biopolímeros propriamente ditos são materiais com as mesmas características de alguns plásticos, mas que são totalmente biodegradáveis.
ORIGEM E PROCESSOS ORGÂNICOS
Existem na verdade três principais tipos de biopolímeros no mundo: o baseado em amido, que pode ser usado para vários usos como copos, sacolas e embalagem de alimentos como iogurte; o PLA (ácido polilático) que pode ser usado para os mesmos fins, com a vantagem de ter resistência térmica; e o BHP (polihidroxibutirato) que é manufaturado por meio fermentação bacteriana de matéria orgânica.
Além das grandes empresas no Brasil como Braskem, Basf e Solvay, que estão pesquisando estes materiais, existem vários laboratórios dentro das universidades e pequenas empresas que estão estudando estes materiais e aprimorando tanto a técnica de produção quanto as suas características físicas para ampliar criar cada vez mais usos para estes produtos.
Com as pesquisas que estão sendo realizadas em institutos de pesquisas, universidades e empresas, o setor espera aperfeiçoar o material e diminuir as suas limitações.
“Os biopolímeros têm muito que caminhar, mas já evoluíram bastante, até pouco tempo eles não agüentavam altas temperaturas, hoje eles já suportam”, disse Walcenyr Neto, gerente de produto do Ingeo®, biopolímero desenvolvido há nove anos pela Cargill na América de Norte.
A alemã Basf, por exemplo, em parceria com a Corn Products, está apostando no material, mesmo produzindo outros tipos de polímeros de matéria prima não orgânica. Como qualquer produto novo que chega ao mercado, os biopolímeros ainda não têm a mesma escala de produção de um material que já é uma commodity, o que reflete no alto custo do material, afirmou Letícia Mendonça, gerente de Negócio de Especialidades da Basf para a América do Sul.
“O material começa sendo usado em um nicho específico, que com o tempo vai se ampliando”, disse Mendonça, da Basf. “Eu não acredito que ele irá substituir o plástico convencional em tudo que a gente vê no mercado hoje”.
O material já vem sendo usado para a fabricação de embalagens, especialmente as que se contaminam com alimentos, sacos para lixo orgânico, produtos descartáveis em geral e produtos para agricultura, porém está ganhando outras aplicações mais elaboradas, que exigem alta performance e estabilidade ambiental, como em produtos semi-duráveis e duráveis.
“A presença de biopolímeros em eletrônicos verdes e na indústria automobilística está crescendo”, comentou Moreira, da Biomater. “O material é reciclável, como qualquer outro plástico, com a vantagem de ser biodegradável quando as outras alternativas de reciclagem se esgotarem”.
GANHAR CONFIANÇA
Um dos grande desafios, no entanto, é a padronização e certificação do produto.
No Brasil não existem laboratórios homologados para certificar nem os biopolímeros, nem os produtos transformados, indicando que realmente o material é de fonte renovável e/ou biodegradável e compostável. O sistema de certificação deverá ser ligado ao Inmetro, que homologa os laboratórios aptos a realizarem os testes.
Moreira, da Biomater afirma que não é apenas o produtor de resina que necessita da certificação, mas também os transformadores, têm que certificar o produto final, para dar garantias ao consumidor de que ele realmente está manipulando um material compostável.
Sem a possibilidade de comprovação da origem do material, o acesso aos benefícios fiscais fica bloqueado, mesmo que governo ainda preste pouca atenção a este setor.
“Como o governo dará incentivos se não tem a comprovação da origem do produto?”, questiona Moreira. “O primeiro passo é ter o sistema de certificação organizado para podermos organizar todo o processo”.
A opção no momento é buscar certificação no exterior, que além de custa caro, leva cerca de sete meses.
Como falta de padronização e certificação nacional, a cadeia também demora a desenvolver-se, principalmente na adaptação do setor transformador que precisa investir em maquinário e conhecer melhor as cacaratecrísticas físcias do produto. Analogamente, o setor de plásticos oriundos da petroquímica conta com cerca dezenas de fabricantes de resinas e mais cerca de 5 mil transformadores.
Apesar da diretora da Basf afirmar que os transformadores precisam fazer poucos investimento para manipular os biopolímeros, existem diferenças importantes.
“Não é tão simples, não basta pegar um plastico biodegradável e colocar na extrusora, existem uma série de complicantes”, afirmou Maria Filomena Rodrigues, pesquisadora do Centro Tecnologia de Processos e Produtos do IPT.
Ademar Benévolo Lugão, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares, órgão vinculado à USP acredita que, para o transformador, seja muito difícil processar alguns tipos de biopolímeros, em particular os originados do amido.
“Quanto mais natural ele for, mais difícil é o processamento, o polímero sintético, já está aperfeiçoado para um sistema de produção adaptado ao maquinário disponível em nossos parques industriais,” explicou.
Não obstante estas questões, as pesquisas têm reduzido os preços, fato que permitiu à Cargill e a Bunge testar o mercado agrícola importando sacaria feitas de biopolímeros, à transportadora aérea Tam, que já introduziu o material biodegradável como seus pratos de refeição servidos durante os voos, enquanto grandes redes de varejo com o Wal Mart estuda a introdução de bandejas biodegradáveis para vendar frutas e legumes.
“Os biopolímeros já custaram 14 mais que os sintéticos, sendo que hoje os valores já estão bastante próximos devido à escala de produção que já atingimos”, disse Neto. “Nesse ritmo, em breve teremos valores competitivos ou mesmo inferiores ao dos polímeros convencionais”.
Para ele, o ganho de escala vai ser a principal chave para destravar o setor. Ele compara com o desenvolvimento de mercado de outras resinas que enfrentaram um ciclo longo até ganhar ubiquidade no mercado.
“A consultoria McKinsey mediu o tempo que os principais plásticos demoraram para vender 150 mil toneladas em um ano”, disse Neto. “O estudo mostrou que o PET demorou 12 anos, o polipropileno seis anos e o Ingeo entre 9 a 11 anos, sendo que já estamos completando nove anos no mercado”.
Com as grandes empresas do setor petroquímico cada vez mais desafiadas a melhorar sua pegada de carbono e com um público cada vez mais consciente, o espaço para novos produtos menos impactantes ao meio ambiente, mas que tenham bom espectro de uso, está aberto.
Mas para isso é preciso de políticas públicas para distinguir como melhor usar os biopolímeros e quais os usos mais adequados, pois os plásticos feitos de petróleo ainda vão estar presente na sociedade.
fonte: http://www.fourjet.com.br/blog/?cat=1&paged=4
Com tecnologia nacional, Brasil se prepara para liderar indústria de biopolímeros
0
comentários
Tudo Pela Natureza
-
Popular Posts
-
No domingo, uma tigresa em Taiwan deu à luz três filhotinhos bastante peculiares (um deles, infelizmente, não sobreviveu e morreu logo depo...
-
A conversa de um fazendeiro foi gravada com autorização da Justiça. As escutas deram pistas para que os policiais chegassem à fazenda no Pan...
-
Animais estão abrigados no Lone Pine Koala Sanctuary. Socorro às espécies locais é feito após nível das águas baixar. Um grupo de 72 coa...
-
Construção de usina opõe moradores das cidades de Naturita e Telluride. Projeto levaria à reabertura de antigas jazidas no Colorado e em Uta...
-
A próxima edição da Hora do Planeta já tem data marcada: sábado, 26 de março de 2011, das 20h30 às 21h30. A Hora do Planeta, conhecida glo...
-
Na natureza tudo se transforma. O resto daquilo que se decompõe ajuda a manter a vida no planeta. Mas enquanto a natureza se mostra eficien...
-
Temperatura foi 0,62°C superior à média do século XX. Aquecimento global é a causa, dizem cientistas. O ano de 2010 empatou com 2005 como ...
-
Estudo diz que os prejuízos vão atingir US$ 157 bilhões anuais. Em menos 20 anos, quase todos os países perceberão o impacto do clima. A p...
-
Encontro em Nagoia, no Japão, aprova pacto que pode liberar até US$ 200 bi por ano para preservação. Destruição ambiental custa entre US$ ...
-
Técnicos irão dar alertas sobre pontos mais poluídos da cidade. Prédio foi inaugurado nesta sexta-feira (31). O Centro de Operações, in...
Category List
- Chuva (2)
- Ciência (23)
- Clima (3)
- Desenvolvimento (8)
- IBAMA (1)
- Investimento (1)
- Japão (1)
- NanoTecnologia (3)
- ONU (1)
- Planeta Terra (25)
- Poluição (5)
- Saúde; (4)
- Tecnologia Verde (23)
- Vida (28)
WELCOME
Seja muito bem vindos!
Aqui você terá noticias, sobre a Mãe Natureza e o que acontece pelo Mundo!
Aqui você terá noticias, sobre a Mãe Natureza e o que acontece pelo Mundo!
Paloma Jollie
Paloma Jollie. Tecnologia do Blogger.