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Nanotecnologia aumenta sucesso de transplante

Resultado em coelhos aponta estratégia promissora, também eficaz contra aterosclerose; Incor pretende começar testes em humanos.

Pesquisadores do Instituto do Coração (Incor-USP) pretendem lançar mão da nanotecnologia para aumentar os índices de sucesso em transplantes cardíacos e no tratamento de aterosclerose.

Em testes com coelhos, os cientistas conseguiram diminuir em 50% as complicações - semelhantes a aterosclerose - que costumam afetar transplantados. Também reduziram em 60% as lesões nas artérias dos coelhos causadas por uma dieta rica em colesterol.
Segundo Noedir Stolf, presidente do Incor, os testes clínicos em transplantados podem começar em breve. "Primeiro, vamos experimentar a abordagem em pacientes que já apresentaram algum tipo de complicação depois do procedimento", afirma Stolf. "Mas creio que a estratégia será interessante como forma de prevenção das complicações."
Os testes para tratar aterosclerose também estão prestes a começar, aponta Raul Cavalcante Maranhão, que apresentou vários resultados da pesquisa durante a 25.ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), no fim de agosto.
Câncer. Maranhão começou a pesquisar nanopartículas em 1987. "Naquela época, ainda nem existia o nome", recorda. Ele queria criar partículas sintéticas de LDL - vulgarmente conhecido como mau colesterol e associado a enfartes e AVCs. A síntese em laboratório pouparia o trabalho de extrair a LDL natural. A princípio, as nanopartículas só seriam usadas em pesquisas. Com o tempo, revelaram papéis muito mais promissores.
Maranhão percebeu que, ao injetar as nanopartículas de LDL em coelhos com câncer, o tumor absorvia-as com avidez. Havia uma explicação: células cancerosas necessitam de lipídeos para crescer e se multiplicar. Por isso, elas aumentam na membrana a concentração de receptores que trazem para dentro da célula as partículas de LDL.
Naturalmente surgiu a ideia de associar quimioterápicos às nanopartículas. Assim, um medicamento que seria dispersado para todo o corpo pode ser entregue com precisão no tumor. "Diminuímos muito a toxicidade, mantendo, no mínimo, uma idêntica eficácia", diz Maranhão. Com o tempo, os pesquisadores decidiram usar as mesmas nanopartículas para tratar aterosclerose. Maranhão percebeu que elas também se acumulavam nas regiões das artérias onde surgiam lesões características da doença.
A aterosclerose é fruto de um processo inflamatório dos vasos sanguíneos. O tratamento normalmente se reduz à desobstrução de artérias entupidas ou à administração de medicamentos que controlam variáveis associadas ao risco vascular, como a pressão e o colesterol.
Nanopartículas de LDL com o quimioterápico paclitaxel reduziram em até 60% as lesões ateroscleróticas em coelhos. O paclitaxel é, antes de mais nada, uma droga antiproliferativa. Nas inflamações que acompanham a aterosclerose é comum ocorrer a proliferação de macrófagos e do tecido muscular que reveste as artérias. O medicamento carregado pelas nanopartículas corrige os danos da inflamação.
"A doença coronária do transplante cardíaco é "parente" da aterosclerose clássica", explica Stolf. Nas duas situações, surgem placas que podem obstruir os vasos. As semelhanças motivaram o diretor do Incor a testar as nanopartículas com quimioterápicos em um esforço para melhorar a sobrevida depois dos transplantes. Cerca de 10% dos transplantados apresentam algum tipo de alteração na coronária um ano depois do procedimento. Cinco anos depois, o porcentual sobe para 50%. Um quarto das pessoas que se submetem à cirurgia desenvolve lesões ateroscleróticas graves.
"É a principal complicação que limita a sobrevida tardia do doente (período que começa um ano depois do transplante)", afirma Stolf. Em coelhos, as alterações na coronária diminuíram 50% com a nanotecnologia. "Agora, vamos associar também (a droga) metotrexate. A eficácia deve ser ainda maior", considera o diretor do Incor.
Ele acredita que, no futuro, será possível associar as nanopartículas de LDL a imunossupressores que evitam a rejeição do transplante, mas possuem vários efeitos adversos. "Desta forma, a toxicidade diminuirá muito", aponta o pesquisador.

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